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A vida sem CHEIROS não tem cor nem amor...;)
“Bem! Tu viste o pedaço de mau caminho que acabou de entrar?”, perguntou minha amiga Fátima, quase a engasgar-se com o café que acabara de pedir.
“E tu achas que eu sou mulher de perder uma coisa dessas?”, respondi, sem tirar os olhos do moreno , género casual chique, cabelo negro que acabara de entrar.
“Sou tarada por homem de calça de couro preta. E olha que rabo ele tem...”
Obviamente, eu já tinha dado uma boa olhada no rabo dele. Só que... “Estás cega, Fátima? O homem está de jeans.”
“Como, jeans? Espera lá: de que homem é que tu estás a falar?”
O deus grego que acabava de entrar, a umas três mesas de distância, de modo que pude fazer uma bela e detalhada descrição: “Aquele viking ali, barba meio por fazer, olhos azuis, quase cinza...”
“Não, o que eu digo é o morenão do outro lado do balcão. tipo latino caliente, parecido com o António Banderas.”
“Ah, aquele... Também é interessantíssimo. Mas podes ficar com ele todinho para ti.”
“Bem que eu queria”, suspirou a minha amiga, enquanto os objectos do nosso desejo se afastavam.
Os homens são tão sortudos! (E, desculpem, queridos, mas tão sem imaginação!) Enquanto eles tem como o seu tipo de mulher ideal um determinado padrão de beleza de que todos gostam, magras, belas e esbeltas nós, ao contrário, achamos a maior graça em “quase” todos eles, não importa o tipo.
A maior prova disso sempre ouvimos os homens dizer, o meu tipo de mulher é assim ou assado e sempre boazona de preferência.
Já nós mulheres em compensação...
É difícil definir o nosso tipo de homem. Pode ser o grande e cheio de músculos, ar perigoso; pode ser o sensível meio intelectual de olhar carente. O baixinho que passa despercebido. O certo é que se ele provocar uma reacção química...
A adrenalina enlouquece. A vontade é agarrar o desgraçado e leva-lo para algum lugar, qualquer lugar. E o Adónis que nos faz perder o eixo não tem necessariamente nada a ver com a beleza clássica do Adónis de verdade; muitas vezes, não tem nada a ver sequer com beleza.
Um jeito de olhar, um sorriso, o cabelo, um gesto de mãos.. Ou seja, há um sentimento que beira o êxtase espiritual quando olhamos para um homem bonito, mas alguns tipos de beleza são só para consumo externo. A diferença, desculpem o cliché, está no íntimo!
“Queres outro café?”
Fátima, que de parva não tem nada, percebeu imediatamente a segunda intenção por trás da minha gentileza. Do balcão, a “vista” era bem melhor do que ali da nossa mesa. E lá fomos nós procurar uma posição estratégica -- isto é, que me deixasse de frente para o meu deus deus grego. O homem era mesmo um escândalo de sensualidade. . Tinha até um buraquinho no queixo, o bandido.
“Ele é a cara do Juanes”, comentou a Fátima. Ela tinha razão: realmente ele lembrava o Juanes o cantar ,que é lindo de morrer.
“Aposto que é músico também”.
“Será?”, suspirei.
“Vai lá e pergunta!”, desafiou-me.
“Nem pensar!”
“Por que não? O que tem demais, olha que tinha graça?”
A Fátima ainda me tentava convencer quando o “António Banderas” se “pendurou” nos nossos pescoços. “As meninas estão sozinhas?” O jeito ordinarote e o bafo de bebida foram suficientes para quebrar qualquer resquício de encanto. Um desastre completo
“Não, estamos uma com a outra, obrigada”, respondeu a Fátima, já totalmente esquecida do fascínio da calça de couro preta e pronta a protestar se o homem insistisse em se sentar connosco. Felizmente, o Banderas não estava sóbrio suficiente para insistir.
“tens a certeza de que preciso explicar o que tem de mais?”, brinquei.
Confesso que sou adepta fervorosa de olhar pelo prazer de olhar. O fato de ficar com os pneus arriados pela aparência de um sujeito não significa que queira levá-lo para casa. Na minha opinião, a graça está em admirar... E ficar imaginando coisas. Para que me decepcionar? Para que correr o risco de descobrir que o homem é gay? Ou que nunca leu, nem sequer um livro do Patinhas? O bom deste “ flirt” que acontece por acaso é que a gente pode projectar no "deus grego" todas as qualidades que gostaria que ele tivesse. Mas não há a menor necessidade de o comprovar na vida real.
A experiência de vida já me ensinou que nem tudo o que parece é... A beleza é muito subjectiva... Não podemos ter certeza de que um sujeito é mesmo bonito antes de conhecê-lo. Só aí o maxilar quadrado, o olhar penetrante, o sorriso misterioso, ganham sentido. É o tipo de beleza que só se vê de perto. Aliás, bem de pertinho.
Depois de a Fátima me dar boleia até em casa, fiquei horas e horas deitada na cama sem conseguir dormir, lembrando o grand finale daquela noite. Por momentos levantei-me, fui até à loja de música que existia dentro do café, aproveitar para ver os Cds . De repente senti uma presença ao meu lado um perfume agreste de homem. E, no mesmo segundo soube que era ele.
Ficamos algum tempo em silêncio, mas eu ia morrer se não ouvisse a voz dele. “Não consigo encontrar nenhum CD do Perry Blake. Consegue vê-lo?”, tentei parecer o mais natural possível. “Acabei de ver Have You Ever Really Loved A Woman?. Garanto que é das música que você mais gosta.” Com essa observação, ele subiu no mais alto degrau do meu pódio particular de homens interessantíssimos. Conversamos mais um pouco sobre nossos gostos musicais, escolhemos alguns temas e, quando me preparava para voltar à mesa, ele olhou-me bem dentro dos olhos (que, por sinal, não eram azuis, eram verdes), e disse:
“A gente já não se encontrou antes? Tenho a impressão de que a conheço .”
“Também tenho, mas não me lembro de onde”. A essa altura eu estava a ponto de ter uma coisa.
“Tudo bem, tenho certeza de que nos vamos encontrar outras vezes. Você vem sempre aqui?”
“Hum-hum...”, já nem falei porque estava a mentir descaradamente!
“Não me disse seu nome”
“Lúcia” Não sei por que menti.
“O meu é António. Tchau, Lúcia”.
“Tchau.” Dei o maior sorriso de que fui capaz, virei as costas e voltei para a minha mesa, esforçando-me para não tropeçar nas nuvens.
Sabem aquela coisa que eu disse sobre muitos interessantes e lindos serem gays e burros? Não é preciso levar tããããooo ao pé da letra. Sempre que possível, dê-lhes uma chance. No fundo, todos merecem ser levados para a cama, como eu fiz com o António naquela noite...
Em sonhos, é verdade!
Esta é uma história é completamente assexuada... De sexo não tem nada. Um momento zen diário...