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Eu estranhamente lucida

por R.Cheiros, em 03.06.08

 

(Hoje não fales comigo!!!!)


Um amigo meu que não via há imenso tempo virou-se para mim e disse-me que eu estava com ar misterioso (que segredo escondes?). Ri-me e disse-lhe que era doido. A minha vida é um livro aberto.

Digo sempre o que penso, não fujo de uma boa conversa, nem sequer de uma boa discussão.

Começamos com um jogo de palavras. Uma espécie de  flirtar (aquele jogo do conhecimento em que cada um vai dando um passo no sentido de descobrir o outro e vice-versa). É.  Impossível que alguém que te rodeia não não notar que não estas feliz.

Não estou feliz....??
Dou comigo a pensar em mim...

Há quanto tempo não me analiso e não para para me “olhar “com olhos de ver.

Porém esta semana, alguém que nem sequer me conhece muito bem assim  disse-me que há situações em que fujo. Em que me escondo. E a minha melhor amiga, que me conhece como ninguém, ainda acrescentou que jogo sempre à defesa. Que reajo mal perante os elogios.
Confesso que fiquei a pensar no tema. E é verdade.
No meu círculo de amigos e conhecidos, tenho um rosto uma identidade, sou a (...) companheira, alegre, equilibrada e que sei ouvir, amiga para todas as horas. 
No meu trabalho com os "colegas" dizem que sou, ordeira e organizada. (A sério? Olha que não...) competente, as pessoas vêem-me como teimosa e determinada na verdade tenho uma personalidade um pouco dominante, em especial no local de trabalho.

Em casa sou...a que que vive no mundo da lua, dizem que tenho uma imaginação muito activa. Pouco realista, despistada, por vezes autoritária e arrogante (Por vezes).

Na rua sou "aquela"...  Ninguém, apenas mais uma pessoa entre milhares mas continuo a não ser ninguém, posso passar uma imagem confiante, e agressiva, mas sou mais uma no meio da multidão . 
E aqui (neste espaço)não sou nada, nem ninguém... 
Assim é tão fácil falar de sentimentos, de mim, de nós, das nossas frustrações, amores desamores, dos desencantos, dos sonhos, desejos e esperanças. 
Que me julguem...estou pouco me lixando. Pouco me importasse se  alguém me lê. É me completamente indiferente, estou-me completamente nas tintas para o que alguém possa pensar de mim... Até porque aqui não sou nada, apenas palavras, louca... ? Sim talvez.

Mas para que me serve a merda de um blogue se não poder gritar o que me apetecer?? Coisas bonitas e bem comportadas já escreve meio mundo e não estou a pedir a ninguém para me ler... eu nunca fui politicamente correcta nem certinha portanto que se lixe.. 
Possivelmente tenho uma maneira de ver o mundo diferente da maioria das pessoas, até porque não existem duas pessoas iguais.

Estou um bocado farta de tudo "isto" que me envolve, uma vidinha de classe média onde parece que tudo nos é imposto e pré-determinado, cheia de regras, e falsos moralismos.
Olha que isto fica mal, olha que aquilo não é adequado, isso não é para a tua idade... Não deverias fazer assim... 
Sinto-me a sufocar e a precisar de "espaço" o meu espaço o meu tempo, os meus gostos onde seja eu mesma sem me estar a preocupar que "fica bem ou não" tenho vontade de mandar a merda todas as regras e convenções a que fui sujeita durante anos, a deixar de me preocupar com o que os outros pensam e pensar mais em mim.

Estou farta de pessoinhas perfeitas palavras de circunstância escolhidas a dedo ... Hipocrisia e falta de verdade.
Mentiras... Um chorrilho de mentiras porque ninguém é perfeito e todos temos momentos de nos apetece gritar que estamos fartos, ou não??
Farta de ler coisas perfeitas... E então onde são os outros, os imperfeitos?

Pensar se estou feliz.... se é isto que eu quero para minha vida.

Porque será que perdemos o habito de nos analisar??

Cheguei a conclusão que o que faz o impedimento é o medo de tomar conhecimento com a realidade e de descobrir que estagnamos em alguns pontos da nossa vida.

Temos sempre a mania de pensar que a “galinha da minha vizinha”é sempre melhor do que a minha...

Mas todos têm duvidas, problemas , e normalmente existem dois caminhos, ou falamos deles e exorcizamos todos os fantasmas ou vamo-nos acomodando e deixando de viver. Depois de muito pensar cheguei à conclusão que tenho “tudo”....

Depois de 25 anos de vida em comum  olho para trás e realizei todas as metas ...namorei muito, construi uma família, solidifiquei-me a nível profissional ,realizei os sonhos matérias e viajei. (tenho uma vida invejável..)

Mas realizei os sonhos que realmente importam?

Hoje agora neste momento que já vivi mais de metade da minha existência, sinto-me totalmente realizada?

Sendo realista...

A ti meu amor, porque hoje....
Sinto  marasmo que se transformou a minha vida, sinto-me pouco mais do que um dado adquirido.

Onde já não existe a necessidade de investir, conversas banais, tantas vezes de circunstância.

Como se tivéssemos a seguir algum guiam escrito por nós mesmos há muitos anos.

 Sinto-me a jogar completamente na defensiva nas relações amorosas.

Temos ao nossos momentos que me parecem cada vez mais fugazes..começo a descobrir coisas em mim que desconhecia.

Já não gosto de expectativas.

Não gosto de me sentir a precisar de alguém.

Já não me consigo expor como dantes. Atormentam-me as dependências, depender de alguém.. não sequer sei porquê.

Já não gosto de dizer: Amo-te não que não te amo porque não posso negar que ainda te amo mas a palavras fazem-me alguma confusão.

Não gosto de elogios principalmente relacionados com a minha vida pessoal, e responde invariavelmente a desconversar. 
Eu quero mais...espero mais da minha vida, tenho sonhos. 
É impossível manter uma conversa quando dois não querem, passa a ser um monólogo, quando não se quer ver que não está tudo bem. Sinto-me tantas vezes como se estivesse a falar para uma "parede".

Pormenores, pormenores que saltam a vista...

Pergunto-me onde foi que nos perdemos? E porque raio não te questionas tu?

Faltamos alma... Paixão, desejo... O sexo passou a ser como que uma obrigação, faz parte, não é?

Não te acuso de nada, nem vais ler isto... É mais um desabafo meu, porque a culpa nunca é só de um, ambos somos culpados, possivelmente passamos tempo demais a olhar para nós mesmos sem nos preocuparmos com o  pormenor que é (nós dois)
É uma sensação de dualidade, uma parte de mim que me diz que ainda vale a pena que não devo desistir que são fases da vida e que tudo vai mudar, a outra parte tem vontade de mandar tudo as ortigas e dizer basta.
(Será que sou a única pessoa que se sente assim? Existem casamentos perfeitos?)

Não ,a galinha da minha vizinha  não é melhor do que a minha.... talvez nem a vizinha pare para apensar...
Gostaria de poder ler os teus pensamentos, descobrir para lá do que é visível.
Neste momento sinto-me presa, insegura e farta a sufocar em palavras
Isto já me passa!


  

publicado às 13:00


2 comentários

De João Cordeiro a 03.06.2008

O desabafo que aqui explanas poderia ser o desabafo de qualquer comum dos mortais que partilham esta estrada virtual em que nos encontramos.
Estrada cheia de muros de um lado e do outro, que nos permite esconder dos tabus e dos preconceitos, e nos dá a protecção segura e necessária para termos coragem de desabafar os nossos verdadeiros sentimentos.
Qualquer pessoa, homem ou mulher, seguro por uma identidade desconhecida, poderia ter escrito esse texto. Claro que moldado a cada personalidade, mas no fundo o mesmo desabafo, o mesmo cansaço, a mesma desilusão, o mesmo saudosismo... enfim gritar bem alto que a vida não é apenas etiquetas predefinidas. Senti de facto este teu texto como se fosse meu, como se fosse dele, e até deles.
Quando faço a ronda tal vigilante que tenta encontrar algo de anormal no seu percurso, muitos pensamentos me passam pelo cérebro e porque não pela alma.
Será que esta espécie de diário que tanta gente passou a saborear, é de facto um "gritar" da dor que todos temos vontade de expelir?
Será que com o passar dos anos, do progresso somos também cada vez mais infelizes? Somos cada vez mais isolados?
Embora não tenha formação para tal, perco-me a ler post e mais post... de vários autores.
Gosto de ler e principalmente sentir o "sentir" de quem escreve... e tiro sempre a mesma conclusão.
O ser humano é por natureza um ser insatisfeito... eventualmente seremos certamente o animal, menos adaptado à sociedade que construiu.
Somos o animal que mais medos esconde... e tal como afirmo no meu "O lado escuro da lua"... "temos medo constante da solidão, da loucura, do desespero de não ser ninguém, da frustração, do medo de ter medo, o terror de voltar a estar no lado escuro da lua."
Julgo que tentamos sempre perseguir a perfeição e esquecemos que somos animais que surgiram na terra, e que como as outras espécies que connosco coabitam, temos desejos, medos, frustrações... mas dizem vocês, sim, mas somos racionais.
Sem dúvida que somos, somos racionais... mas racionais principalmente para o mal.
Lógicos para matar por inveja, por gula... pensantes para construirmos engenhos que mais dia, menos dia servirão para a destruição do planeta. Acertados, para tramarmos o parceiro, em busca de uma promoção no emprego.
Sensatos para proliferar guerras inúteis. Prudentes para ferir o nosso semelhante.
Que se lixem todos estes pseudo-racionais!

Beijo
João Cordeiro

De R.Cheiros a 06.06.2008

João meu querido João...
Não te vou responder a este testamento acho que nisto somos parecidos escrevemos muito... A única diferença é que tu escreves bem e eu borrato umas coisas:))
Já sabes a minha opinião sobre este tema e eu a tua mas parece que é generalizado todos sentem dúvidas cansaço vontade de gritar mas nem todos tem coragem de falar nisso.
Eu sou apologista de que um grito de vez em quando faz bem alivia e remato com:

"Se afinal ainda te amo temos muitos gritos pela frente"

Um beijo

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