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Ego

por R.Cheiros, em 02.05.08

 kissing_my_ego_01

«E quando nos centramos só em nós?»

Um dia, eram talvez umas onze da noite, estava em minha casa, sozinha, quando recebi o inesperado telefonema de um querido amigo meu. Fiquei muito feliz por lhe ouvir a voz.
«Oi? Tudo bem? Como é que vai a vida?», perguntou.
E eu, sem saber porquê, respondi-lhe: «Oh... para aqui estou, muito só...»
«Queres conversar um bocado?»
Respondi-lhe que sim, satisfeita.
«Queres que vá até a tua casa?», perguntou-me.
Voltei a responder que sim, entusiasmada com a perspectiva de ter alguém com quem trocar dois dedos de conversa e animar o serão.
Desligou o telefone e, pouco depois, lá estava ele à minha porta.
Fartei-me de falar durante horas: do meu trabalho, da minha família, do meu divórcio, dos mil e um problemas da minha vidinha. Atento, ele escutou-me, animou-me, apoiou-me, aconselhou-me. Nem dei pelo tempo passar. Apesar de, nesse dia, estar muito cansada, a companhia do meu amigo fez-me muito bem. Foi óptimo para mim desabafar e escutar conselhos e palavras amigas. Era quase de madrugada quando nos despedimos.
Já à porta, lembrei-me de perguntar porque me tinha ele telefonado naquela noite, se tinha algum motivo especial.
Então o meu amigo disse-me:
«É que eu queria dar-te uma notícia... Fui ao médico e soube que os meus dias estão contados. Entrei em contagem decrescente...»
Fiquei tão surpresa e consternada que nem recordo o que mais lhe disse. Talvez um monte de vulgaridades. Mas, quando finalmente fechei a porta, de novo sozinha, entre os meus desencontrados pensamentos e emoções, não pude deixar de sentir um enorme desconforto pessoal. Quando o meu amigo me perguntou como eu estava, esqueci-me dele e só falei de mim. Ele, com os dias de vida contados, teve forças para sorrir, escutar-me e aconselhar-me e eu passei o tempo todo a pensar em mim e a falar dos meus dramazinhos pessoais. E, para cúmulo, desconfio bem que, se não fosse a tragédia do meu amigo, nem estava para aqui a recriminar-me pelo meu egoísmo...

 

Esta pequena "História" sobre a amizade e as limitações do nosso próprio Ego, por tendência tão centrado nas próprias necessidades, satisfações, desejos no nosso umbigo  que tem dificuldade em sair dele mesmo e encontrar o Outro.

 ( Reescrita )

 

publicado às 23:09


14 comentários

De Moira a 03.05.2008

Isso não me acontece muito, eu normalmente faço o papel de ouvinte ;-) Mas quando me acontece a mim entrar em stress, a minha forma de dar a volta é pensar que os meus problemas não são nada comparados com os milhares de problemas graves, que existem por esse mundo fora, e assim vou seguindo em frente. Bjs e bom fim de semana

De R.Cheiros a 03.05.2008

Bom, isto é uma história e como alguém já disse (puxada) ok seja. Mas todos nós temos alturas em que perdemos na conversa e quando damos por isso já falamos tanto que nos esquecemos de perguntar se o outro tem alguma coisa a dizer. Nunca me encontrei no meio de uma conversa tão trágica e até acho que a vida tem sido bastante generosa comigo e claro que sinto que os meus problemas não fazem sentido perto de grandes dramas que por ai se vivem. ( Mas quem é que nunca se sentiu nem que seja uma vez na vida, péssimo e a pensar que a vida é uma bosta? Eu já) Normalmente dá-me forte mas passa rápido não sou de ficar muito tempo a partir pedra.
Beijo
Continuação de bom fim-de-semana

De R.Cheiros a 04.05.2008

A serio????
Então fica só entre nós, ok? Se descobrem que sou a Cindy Crawford estou tramada
Não te andas a esquecer das gotas?

De semifrio a 03.05.2008

Em certos momentos da vida todos temos os nossos egoísmos os momentos que olhamos par o nosso umbigo. Faz parte do ser humano e não existem pessoas perfeitas .como tu mesmo dizes o que é muito perfeito é de estranhar ,algo está podre no reino da Dinamarca. A tua historia também esta um bocadinho puxada, mas todos nós pelos menos uma vez na vida tivemos um momento parecido. Quem o negar …ok é falsidade. Ressalto aqui o valor da amizade que é uma das maiores fortunas do homem
Beijo espirituoso

De R.Cheiros a 03.05.2008

Digo e repito não existem pessoas perfeitas. Tu achas que sim??? Sabes uma coisa que me pergunto muitas vezes? Porque é que este mundo é tão individualista e tão violento. Afinal parece que todas as pessoas quando se descrevem só lhes falta dizer que são a madre Teresa de Calcutá. Eu sou imperfeita tenho vários defeitos e como toda a gente já olhei só para o meu próprio umbigo, O que acontece é que tento não o fazer e tirar a “pala” dos olhos. A amizade é um bem e amigos como tu uma bênção :)
Beijoca

De ElsaBreia a 03.05.2008

retiro esta frase :Quando o meu amigo me perguntou como eu estava, esqueci-me dele e só falei de mim: a quem é que nunca aconteceu?julgo que a todos

De R.Cheiros a 03.05.2008

Bem vinda e obrigada pela visita.
Concordo em género numero e grau. A todos

De L'etranger a 03.05.2008

tenho um amigo que me dá cabo do "ego"! O que ele se diverte à minha conta! O pior é que eu também me divirto! E quando damos conta, estamos os dois a rir à gargalhada das minhas figuras ridículas! E no fim sinto-me óptimo! odeio o meu "ego"

De R.Cheiros a 03.05.2008

O ego, diz Freud, é "um pobre coitado", esta reprimido entre três escravidões: os desejos insaciáveis , a severidade repressiva do superego, e os perigos do mundo exterior. Quando o ego se submete aos desejos torna-se imoral e destrutivo; quando se submete ao superego. Enlouquece de desespero, mas se não se submete ao mundo morre sozinho. O melhor mesmo é acabar com ele e divertir-se. Odeio, ok não é mau.
Mas se o ego é o nosso (eu) como o podemos odiar?

De judas a 03.05.2008

O ego é dotado de um poder, de uma força criativa, conquista tardia da humanidade, a que chamamos vontade.
gosto desta defenicão.
todos temos dias egoístas e muito fatelas .
beijos moça

De R.Cheiros a 04.05.2008

Olá moço;)
Também gostei, quem a escreveu?
Eu já tive alguns.
Beijo

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